quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

SISTEMAS ÉTICOS PARTICULARES - 5

(Ritual Indígena)


f) Ética Indígena
A moral indígena, objeto de estudo da Ética Indígena, é una e eminentemente fundada numa Pedagogia cujos fundamentos educacionais alicerçam-se em três valores intransponíveis e inseparáveis: o valor da tradição, o valor da ação, o valor do exemplo. Os três valores podem significar, respectivamente, aprender a ser com os antepassados através dos mais velhos e, portanto, é uma moral gerontocrática; aprender a ser fazendo e, portanto, é uma moral práxica; aprender a ser testemunhando o comportamento individual e social e, portanto, é uma moral social.
Algumas normas e regras instituídas de formação e coesão sócio-político-comunitária da moral indígena também se sustentam nos seguintes fundamentos axiológicos:
- “vontade de beleza” e “vontade de perfeição”, ou seja, todo o fazimento de artefatos, pintura corporal, culinária e instrumentos utilitários é uma ação moral a ser realizada com a máxima perfeição para que através dela seja conhecida e reconhecida por qualquer outra pessoa a condição e a situação social, política, clânica, étnica, etária e sexual de quem confeccionou ou fez aquele instrumento, objeto, artefato, adorno ou pintura. Trata-se, pois, de moral estética, moral étnica, moral sócio-política, moral criativa;
[1]
- convivência e generosidade com todas as formas de vida – animal, vegetal, humana, particularmente nas relações sociais;[2]
- dignidade, lealdade e orgulho étnico e clânico;[3]
- respeito absoluto à terra;
- canto, dança e ginástica para formação do corpo sadio, forte e digno da etnia;
[4]
- instituição social do cunhadismo pelo qual um homem estranho é incorporado à comunidade mediante casamento com uma moça índia;19
- repúdio à escravidão;
- absoluto repúdio à mentira ou ao não cumprimento da palavra falada;20
- comunitarismo absoluto, sem qualquer possibilidade de estratificação social.19


g) FILOSOFIA PRÁTICA


Para Wilhelm Guillermo Dilthey Filosofia Prática ou Ética Social é o sistema fundamentado no estudo da formação histórica da consciência humana, dissolvente da ética idealista oferecedora de fórmulas para a vida, determinando os limites dos axiomas científicos ou filosóficos com pretensão de validade geral, esclarecendo a pretensão de saber eterno das ciências e, de igual modo, liberador do espírito (da pessoa histórica) do peso regulador extrínseco daquelas ciências e filosofias pretensamente universais.
A Filosofia Prática ou Ética Aplicada reconhece a determinação e o condicionamento do indivíduo aos sistemas culturais e aos sistemas de organização interna e externa da sociedade, junto com os quais e pelos quais aquele indivíduo se forma e se desenvolve: isso significa que o princípio da pedagogia e o princípio da educação formarão e promoverão a interconexão entre desenvolvimento pessoal-desenvolvimento social. O ponto de entrecruzamento para tal desenvolvimento é a formação profissional, cujos diferenciados tipos de profissão orientarão e absorverão os diferentes tipos psicológicos de cada indivíduo.[5]
A Filosofia Prática de Dilthey ou Ética Social, sustentada por ele século XIX, pode estar reproduzida, em partes ou totalmente, no campo geralmente conhecido como Ética Prática ou Ética Aplicada.

h) ÉTICA PÓS-MODERNA

É uma perspectiva possivelmente não ética da ética no sentido de indiferença, de rejeição, de descrédito absoluto e até de ódio de obrigações, deveres, mandamentos, modelos, ideais e valores morais.

i) ÉTICAS MULTICULTURAIS

O conceito de éticas multiculturais raz uma perspectiva locorregional, portanto sociológica, diferente do relativismo ético e busca limitar quaisquer pretensões da ciência ou das ciências, da ética ou das éticas, contrariando possíveis dogmas de fundamentalismos. No conceito de éticas multiculturais se busca conscientizar-se de que todos os conceitos, sistemas e paradigmas humanos são traços, fiapos, frestas não lineares de uma realidade historicamente determinada e não A verdade.

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[1] RIBEIRO D (Editor) Suma Etnológica Brasileira – Arte Índia – Volume 3. Petrópolis: vozes/Finep. 1986.
[2] RIBEIRO D O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil.2. ed. 18. reimpr. São Paulo: Companhia das Letras. 2001
[3] RIBEIRO D Confissões. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
[4] CATHARINO JM Trabalho Índio em terras da Vera ou santa cruz e do Brasil. Rio de Janeiro: Salamandra. 1995.
[5] DILTHEY WG Sistema da ética. São Paulo: Ícone. 1994

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